Transferência de embriões frescos ou congelados. Qual é a melhor escolha?

Transferências de embriões. Mãos de médico segurando um vidro no laboratório.

A transferência de embriões é uma das etapas mais importantes relacionadas às técnicas de reprodução assistida. Ela tem ligação direta com a escolha dos embriões, do melhor período que ocorrerá a transferência e com o aspecto do endométrio.

Há dois procedimentos que podem ser utilizados para a transferência dos embriões: a técnica a fresco, ou seja, quando os embriões são coletados no ciclo de estímulo ovariano; ou congelados, através do processo de vitrificação.

Em maio de 2018, foi publicado no 11º Relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões (Sis Embrio) que o número de fertilizações in vitro com transferência de embriões congelados voltou a crescer em 2017, em relação ao ano anterior. Obteve-se o registro de 78.216 embriões congelados, com aumento de cerca de 17% da utilização dessa técnica no Brasil. É compreensível que, diante de tantos riscos que acompanham a transferência de embriões frescos, a procura pela fertilização in vitro com embriões congelados tenha aumentado.

Como acontece a transferência de embriões frescos

Transferências de embriões. Óculo fecundado.
O número máximo de embriões transferidos são dois, para mulheres com até 35 anos; três, para mulheres entre 36 e 39 anos; e quatro, para aquelas com 40 anos ou mais.

A transferência de embriões é a última etapa da fertilização in vitro, cujo objetivo é implantar os embriões previamente escolhidos diretamente no útero da tentante. Segundo uma resolução do Conselho Federal de Medicina, de 2010, o número máximo de embriões que podem ser transferidos são dois, para mulheres com até 35 anos; três, para mulheres entre 36 e 39 anos; e quatro, para aquelas com 40 anos ou mais.

Após a estimulação ovariana, coleta de óvulos, coleta de espermatozoides e desenvolvimento embrionário, os embriões a fresco são transferidos para o útero da mulher. Porém, vale saber que, nas etapas anteriores, a mulher foi submetida a elevadas taxas hormonais para estimulação e coleta dos óvulos. Com isso, surgem alguns riscos, como baixa receptividade endometrial e insuficiência placentária, reduzindo as chances de gestação.

Além de tudo, a elevada dose de hormônios nos ovários é capaz de ocasionar a síndrome do hiper-estímulo ovariano (SHEO), que pode representar sérios riscos à saúde da paciente. Nesse caso, é preciso evitar algumas medicações que podem causar o distúrbio e utilizar outras para fazer o amadurecimento final dos óvulos.

Passo a passo

  1. A transferência de embriões para o útero acontece, normalmente, de dois a seis dias após a coleta dos óvulos e devem seguir alguns critérios.
  2. A mulher precisa estar com a bexiga cheia, para facilitar o posicionamento do útero, que receberá o cateter com os embriões.
  3. Caso seja encontrado um número maior de embriões de boa qualidade, além dos que vão ser transferidos, estes serão congelados para posteridade.
  4. Após a transferência embrionária, a tentante deve ficar em repouso em casa, pelo menos nas próximas 48 horas.
  5. O momento mais esperado, o teste de gravidez (dosagem do beta HCG), é realizado de 12 a 14 dias após a transferência dos embriões.

Como ocorre a transferência de embriões congelados

Essa técnica moderna de reprodução assistida só foi possível com o avanço de um processo chamado vitrificação, isto é, um tipo de congelamento de baixíssima temperatura, de forma muita rápida, o que produz um estado vítreo no embrião ou óvulo, impedindo a formação de cristais de gelo e danos celulares.

Sobre a transferência dos embriões congelados através desse processo, ela é composta por três passos: preparo endometrial, que acontece no ciclo menstrual, descongelamento do embrião e transferência embrionária.

“A transferência de embriões congelados é mais segura em relação à transferência de embriões frescos porque, durante o estímulo ovariano, a tentante se submete a altas doses de hormônios e a uma série de medicamentos para a maturação dos folículos. E isso, muitas vezes, pode ser prejudicial à camada interna do útero.”

Outro ponto a favor do congelamento embrionário está ligado à cariotipagem embrionária. Essa tecnologia permite a identificação de embriões “habilidosos”, ou seja, aqueles que possuem o número completo de 46 cromossomos. É essa combinação de técnicas que aumenta, significativamente, o êxito na transferência de embriões, reduzindo o risco de aborto e de alterações congênitas.

Uma das mais valiosas perspectivas para um programa de congelamento de embriões talvez seja, também, a possibilidade de os casais terem duas ou mais transferências, após um único ciclo de estimulação ovariana. Se não houver gestação com embriões frescos, uma segunda, ou terceira tentativa, menos dispendiosa e estressante pode ser empreendida com o descongelamento dos embriões e a transferência, em ciclos subsequentes. A criopreservação também oferece a vantagem potencial de reduzir os riscos de gestações múltiplas.

Indicações para a criopreservação de embriões

  • Quando o número de embriões obtidos num ciclo de FIV excede o número desejado para a transferência intrauterina imediata.
  • Na Síndrome de Hiperestimulação Ovariana, na qual a gravidez representa situação médica potencialmente arriscada.
  • Quando o endométrio estiver inadequado, não receptivo ao embrião.
  • Quando a paciente apresenta más condições clínicas, sendo a transferência postergada até que a saúde se restabeleça.
  • Em programas de doação de óvulos, quando a receptora não está preparada adequadamente para a transferência a fresco.

O  congelamento de embriões é seguro?

Transferências de embriões. Mulher grávida com mãos sugurando um sapatinho de bebê sobre a barriga de fora.
Quando não é preciso entrar com medicação, como acontece no ciclo congelado, as chances de gravidez aumentam.

O congelamento é um método eficiente, portanto não há limite de tempo estabelecido, pois nenhuma atividade biológica conhecida ocorre em células congeladas em nitrogênio líquido. Os únicos tipos de reações que poderiam ocorrer a esta temperatura seriam fotofísicas, como a radiação ionizante. Assim, um problema potencial da estocagem prolongada seria a possibilidade de dano genético, como resultado da exposição prolongada à radiação.

No entanto, experimentos usando radioatividade em embriões de ratos criopreservados, simulando um longo período de radiação ionizante, mostraram que os embriões poderiam ser estocados pelo equivalente a 200-1000 anos, antes que exista uma redução significativa na sobrevida própria da acumulação de dano genético causado pela radiação.

É provável que embriões humanos se comportem similarmente a outras espécies de mamíferos com relação à sobrevida na estocagem. Se congelados sob condições corretas, podem sobreviver pelo tempo de vida reprodutiva do casal do qual se originaram, sem risco de existir efeitos mutagênicos aparentes.

Portanto, quando não é preciso entrar com medicação, como acontece no ciclo congelado, as chances de gravidez aumentam”, esclarece Renata Erberelli, embriologista e supervisora dos laboratórios de embriologia e andrologia da Clínica Genics.

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